[os que seguem]

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os 5 minutos que faltam

São intermináveis. Ah, como são! Parecem não ter fim. As pernas não obedecem ao cérebro e ficam como duas britadeiras perfurando o chão. Os olhos no relógio são agoniados querendo que os ponteiros se apressem, mas eles nunca perdem o ritmo. Bailarinos de Bolshoi.

Sentir calor é

Quando o suor pinga do seu rosto e você o retira com as mãos e nesse meio você nem consegue pensar e nem respirar. Só que é bem mais que isso.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Do tempo e das horas e dos relógios

E como poderia as horas se repetirem? Era a pergunta que passava por sua mente. Duas vezes 12:12 num mesmo dia? Ora, o tempo voltou e zombou de mim? Era a pergunta que não calava nenhum segundo sequer. Era até então entendido que não se poderia viver dois tempos iguais num mesmo. Mas foi vivido. Mas, vejam, espere! Ah, tudo se resolveu e ficou claro. O relógio foi quem ficou doido e não o tempo que, mesmo não doido, sempre zomba da gente. A resposta é simples: o relógio estava atrasado em 1 hora e, por destino, os olhos quiseram ver a mesma hora com uma hora de atraso.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Seguimento

E a vazia estante que é humana, sólida, espera conteúdo. E na espera o ser encantado que é humano, clama por justiça. Que julga o inocente e o culpa. E o piano de oito teclas, com oito sons, de oito vozes, que gritam num silêncio profundo por algum resquício de liberdade. Que foge entre os dedos dos mais fortes guerreiros. Que lutam em vão por um pedaço de glória e reconhecimento. Reconhecidos por quem não dá a mínima. Reconhecimento vazio, de seres vazios, numa estante com pratilheiras empoeiradas de sonhos e liberdade que escorre por entre os dedos de guerreiros que envelhecem em um mundo paralelo ao mundo que é real. Que engole o fraco, exalta o rico e deixa morrer os velhos. Que dormem em camas frias, num quarto frio, com um vento frio e vozes frias. Que dizem aos seus filhos que o sonho é erro. Que o sonho vira pó. Que o pó vira poeira numa pratilheira velha de uma estante vazia. E vazia segue inexorável. E o tempo, o velho vilão de outrora, que a tudo consome, que a tudo cinza, vazio deixa na estante vazia. O velho vazio temporal congestiona e empilha os pensamentos azuis celestes e sonhos empoeirados numa velha estante com pratilheiras empoeiradas de sonhos velhos mortos como pele pelo tempo. Que agora, depois de tanto tempo, nem é tão forte. O tempo de tão velho e de tão entediado acaba por morrer. E o que não foi dito vira pó. E o que foi dito vira pó. E o pó inalado por novos vazios rostos com semblantes vazios é alimento para corpos vazios e novos. E o velho sonho pó é de novo respirado. E o tempo novamente volta ao seu labutar eterno e infinito. Mas agora o tempo é dele. O tempo dele. No tempo dele. E o sonho que era menos agora é mais e mais. E a estante que de tão velha se confundia com a poeira que a possuía, agora é cheia, mas com espaços vazios. Agora a justiça é luta. E a luta é suor. E o reconhecimento que antes era vazio é cheio. E o reconhecimento é dos seus e de si. E a liberdade é sentida, mas não alcançada. É sentimento e não mais vazio que corre. E o piano de oito sons, com oito vozes, que gritam em silêncio profundo, é um berro estridente de sentimentos. E agora o ser sente e vê e sente e sente e fala e fala, pois sente. E sabe. Agora o vazio é sabedoria. É sabido que é do vazio que se preenche e se torna o cheio. E o cheio é meta. E o caminho é o cada dia. E a cada dia o sentimento e a vontade de sentir são mais fortes. E da força de se sentir e querer sentir e querer ser mais sem sentido, mas ser mais, e dessa falsa liberdade livre que se pode segurar e desses todos sonhos e todas as vontades de sonhos realizados e tudo isso, tudo isso, é o amor que pulsa num corpo que vive e que grita: eu quero vida!

domingo, 13 de março de 2011

Ciros

Um Q de perdição

Um tanto de loucura

Pitada de querer nada fazer

E imaginação a gosto


Um grande livro

Livro do que não se deve fazer

Explicando sem querer

Como e quando ser


Vontade. Ah, vontade!

Passa vem e passa vem

Fica! Estagna! Impregna!

Vicia! Envolve! Alicia!


Saber o gosto que se tem

Sem provar sua essência a nos saudar

É um alívio sentir a prova estando aquém

É um gosto lamber a vida sem exitar.


(Feito com A.)

TMOVAS


Mesmo estando perto do seu coração

Não existe forma nenhuma de chegar até ele

Ficamos circulando em órbitas diferentes

Somos muito parecidos com o Sol e a Lua

Vagaremos enganando um ao outro
até chegarmos aos setenta anos

Ah, assim vamos dançando silenciosamente

Podemos esquecer a manhã que vai chegar

Estou transbordando com esse sentimento deslumbrante...

...que é só um pouco do brilho da sua noite!

A branca de névoa e os sete cigarros

Você: "Espelho, espelho meu. Existe alguém da cara lisa mais lisa que a minha?!"
Espelho: "Não minha senhora, não há! Porém, existe um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, vindo do interior, que tem a cara muito lisa, mas nada comparado a senhora!"
Você: "Óh, vida! Preciso me livrar desse rapaz. Não posso dar chance alguma! EMPREGADOSSS? Tragam-me o lenhador!"

to be continued...

sexta-feira, 4 de março de 2011

A casa parecia a imensidão de seu coração [Cap. XI] - Busca

Em pouco tempo chegam à outra margem. Coloca o caiaque num lugar escondido. Fita Mahina. Percebe que ela também o faz, e com o mapa na mão põe-se a procurar a tal entrada. Que não demora muito a ser encontrada.

Próximo a uma árvore, um pinheiro com um cheiro muito bom e fresco, está uma pequena entrada de mais ou menos um metro de altura por cinquenta centímetros de largura – dados não confiáveis, é o que se ouve – imaginando o que encontraria, ele prepara um pequeno kit com lanternas, pilhas, fósforos e um pequeno canivete.

O medo do desconhecido, somado à excitação dos contatos de outrora e a agonia em cumprir os horários para que seus pais não se preocupem os deixam em euforia. Normal, dado toda a aventura.

E sem mais demora, eles passam pelo pequeno portal. O desconhecido os toma. Agora tudo é dúvida. Tudo é medo. Mahina apoia-se no ombro dele como se ali fosse o lugar mais seguro do mundo. Ele se sente forte como nunca se sentiu antes, mesmo tendo só o medo em seu peito.

A casa parecia a imensidão de seu coração [Cap. X] - Encontro

No dia seguinte, na hora marcada, encontram-se. Ele com suas típicas camisas de algodão e ela de vestido florido. Então, certo como esperado, ambos em suas defesas conversam com palavras tímidas. Ele: “Como vai?” - um “como vai” que queria dizer que ele estava sentindo a falta dela e que queria que aquele dia fosse o melhor dia que jamais se viveria. Ela: “Estou bem sim. Mas acho que esse vestido não está legal para a ocasião!” - uma resposta que no fundo queria dizer que ela estava aflita para vê-lo e nervosíssima por vê-lo, e que queria que ele reparasse em seu vestido e a dissesse que estava linda.

Mahina sempre ansiosa por encontrá-lo acaba por revelar sua paixão, até em tão secreta, por gestos e palavras dela. Ele aceita como haveria de ser, mas discreto que é não deixa transparecer! Por que ele também sente e vê o que ela vê. Mas por hora era hora de aventura. O que há no tal lugar indicado pelo mapa? Um tesouro? O quê?

Partindo da choupana os dois se colocam a caminho das indicações mostradas no mapa. Não era nada complicado, porém era necessário atravessar o lago e subir nos rochedos até uma pequena entrada que eles não sabiam da existência, mas que no mapa estava bem claro.

Ele pega o maior caiaque, pois tinha que levar Mahina. A sensação de ter Mahina como carona em seu caiaque torna-se indescritível. Levemente os seios dela encostam-se a suas costas e isso o excita. Muito! E o faz corar. Ela percebe. E não recua. E nos movimentos fortes do seu braço, ele põe o caiaque em movimento, enquanto desfruta da sensação indescritível.

A casa parecia a imensidão de seu coração [Cap. IX] - Entreato

Agora em casa, ele pensa no que se passou em seu sábado. Pensa em como é reconfortante deitar-se em sua varanda depois de um dia de exercícios com seu caiaque. Pensa no estranho mapa encontrado, porém, isso tudo é pouco. O que mais o excita é o fato de que agora tem uma espécie de encontro com uma menina que o atrai. Pensa no tempo perdido lamentando-se pelo que não tinha volta ou não tinha que ser. Lamentando-se por tudo o que era passado. Agora é diferente: há um futuro, ou pelo menos a ideia de um.

Ela, em casa, pensa apreensiva sobre seu pseudo encontro do dia seguinte. Como sempre, muito tímida, os questionamentos que vêm a sua mente são os mais tolos e simples, porém, os mais importantes. Como me vestirei? E se ele tentar me beijar? Maquiagem? Camiseta? E meus pais? Perguntas contrastadas com afirmações. Como ele é bonito! Talvez se usasse essa roupa ou aquela! Quanto mistério em seus olhos! Mas logo o sono chega e ela põe-se a dormir.

A casa parecia a imensidão de seu coração [Cap. VIII] - Delicadezas

“Sim, bem!”. Depois de um pequena pausa, ele a convida para sentar um pouco embaixo de uma árvore, ali, próxima. Caminham em direção à árvore como se ambos soubessem o que queriam, mas nada foi falado nos poucos passos.

Ela começa a conversa, de uma forma um tanto descuidada: “Você não teve culpa alguma do que ocorreu!” - silêncio - “Perdão!” - ela diz. Ele vê um certo começo de confusão em sua mente, mas o rosto dela quando confronta-se com a luz do sol se pondo o faz esquecer o que foi falado - “Sim, ela é muito linda!” - pensa ele. Agora, é tomado por um sentimento fraternal, pois lembrara-se que não mais havia afago em seus dias. Seria ela a resposta a tantos questionamentos?

“Você não fez nada!” - responde e prossegue: “Não há por quê pedir perdão!” - e com um sorriso sincero consegue acalmar Mahina que agora já consegue o fitar novamente. Começam, agora, a conversar sobre coisas corriqueiras, como faculdade, música, cinema e, sobre o que ele encontrara na choupana de seu avô.

“Nossa, um mapa?!” - espanta-se ela - “Mas, ele se refere a esse lago. Estranho, não?” - ele: “Sim, é! Muito estranho. E, é fácil de se guiar por ele. É como se não quisessem esquecer o que está indicado no mapa, pois se não, teriam feito enigmas ou coisas assim.” - retruca ele. “Vamos tentar?” - pergunta ela - “Claro que sim! Seria legal fazer isso com você. Porém, está um tanto tarde. Faremos isso amanhã, ok?”. Com a cabeça ela responde que sim e, é quando ouve a voz de seu pai a chamando para ir embora. Despedem-se com todo o cuidado, para que nada além do que era visto transparecesse.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Hematoma

Quando pequena, Hema tinha um grande problema. Sim, era muito grande para pouca gente que ela era, afinal, eram seus 4 anos apenas. Hema não se entendia com os móveis da sua casa. Parece que eles faziam mudanças todos os dias. Hema sempre tropeçava, esbarrava em algum deles. Eles sempre impávidos colossos em seus lugares mutáveis e, a pequena Hema, sempre toma em seus membros golpes duros e roxos. Parece que eles diziam: Hema, toma! E lá vai Hema tomando um golpe e ganhando um hematoma.

Transparência

Menino um dia sonha acordado que queria que seu quarto fosse transparente. Também, haveria de ser diferente? É o dia mais longo dos dias, então, nada mais justo que ter um quarto transparente que voe por cima das gentes, e que lá em cima fosse fresco, tivesse vento. Então, através da tranparencia sólida das paredes ele veria todo o mundo inteiro e num piscar de olhos saberia que o mundo é bonito. E tudo é transparente no quarto voador transparente: há cadeiras transparentes, com mesa transparente, com piso tranparente. Dá até medo de cair de lá. Oras, onde já se viu ver através do chão. Mas o menino via, via tudo. E lá em cima, sim, em cima da sua casa, longe o suficiente para não ser visto e perto o suficiente para ver, e lá em cima, até o sorriso é tranparente. Sorriso de gelo. Gestos de gelo. Mas não é frio de coisa ruim que ele sente é frio de coisa boa, pois agora ele é dele mesmo, é ele com ele e com o tempo dele. Então, até a alma trona-se transparente. Dá pra ver verdade em tudo de tanta transparência. E ele chora lágrimas transparentes. Lágrimas felizes, pois agora ele sente a falsa liberdade transparente por entre seus dedos que apontam ao longe o mundo que seria transparente se todos conseguissem ver. Mas não vêem. E na sua transparente felicidade feita de gestos transparentes e sorrisos tranparentes com paredes transparentes que dão para um mundo que deveria ser transparente e com lágrimas verdadeiras transparentes, ele dorme na transparência da sua cama transparente olhando fixo para uma mancha no chão.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Do Momento

E às vezes um anjo mal fica parado do nosso lado nos dizendo o que não é bom. E o peito se fecha em rocha e queima. E o olho se afoga em sal. E você se perde. E no seu pensamento mais sombrio, lá no final dele, você sabe que está errado mas, o porquê de se trilhar o caminho tortuoso que ele indica, não se sabe. É como um pequeno vício que cresce e você acaba dependente dele. Mas acaba. Sim, acaba. Logo o anjo vai embora ou mesmo é expulso por outros anjos: anjos de luz. E uma suave melodia ecoa em sua mente, como uma veloz e inebriante... é como se fosse um... um raio de luz musical que alimenta a alma e a liga ao seu corpo. E você volta a se sentir em paz. Você volta a sentir o que é real. Mas real deixa ser que é sério, então, deixa se sentir o abstrato do concreto que é sentir de verdade qualquer coisa.

Do Conforto

Não seria demais ter o dinheiro como um aliado, seria? Então não é fato, pois, que se queira um aliado. Agora tenho um aliado. Pode me parecer pouco ainda. Porém o conforto de agora é o que acalenta minha alma. É fato sabido que se sobra pouco do pouco que se tem. Mas o sobrante é reconfortante. Coisas podem ser feitas. Coisas que há muito tempo foram esquecidas e que, como um sopro divino, se permeiam na liquefaz vontade de agora, concreta que se forma no peito do cantante. O vento que antes não soprava, agora baila no cabelo feito menina que dança e dança. O tempo que era antes inimigo, agora é até escasso. É vida nova, meu senhores e senhoras, é vida nova!