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quinta-feira, 3 de março de 2011

Transparência

Menino um dia sonha acordado que queria que seu quarto fosse transparente. Também, haveria de ser diferente? É o dia mais longo dos dias, então, nada mais justo que ter um quarto transparente que voe por cima das gentes, e que lá em cima fosse fresco, tivesse vento. Então, através da tranparencia sólida das paredes ele veria todo o mundo inteiro e num piscar de olhos saberia que o mundo é bonito. E tudo é transparente no quarto voador transparente: há cadeiras transparentes, com mesa transparente, com piso tranparente. Dá até medo de cair de lá. Oras, onde já se viu ver através do chão. Mas o menino via, via tudo. E lá em cima, sim, em cima da sua casa, longe o suficiente para não ser visto e perto o suficiente para ver, e lá em cima, até o sorriso é tranparente. Sorriso de gelo. Gestos de gelo. Mas não é frio de coisa ruim que ele sente é frio de coisa boa, pois agora ele é dele mesmo, é ele com ele e com o tempo dele. Então, até a alma trona-se transparente. Dá pra ver verdade em tudo de tanta transparência. E ele chora lágrimas transparentes. Lágrimas felizes, pois agora ele sente a falsa liberdade transparente por entre seus dedos que apontam ao longe o mundo que seria transparente se todos conseguissem ver. Mas não vêem. E na sua transparente felicidade feita de gestos transparentes e sorrisos tranparentes com paredes transparentes que dão para um mundo que deveria ser transparente e com lágrimas verdadeiras transparentes, ele dorme na transparência da sua cama transparente olhando fixo para uma mancha no chão.

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