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quinta-feira, 3 de março de 2011

Hematoma

Quando pequena, Hema tinha um grande problema. Sim, era muito grande para pouca gente que ela era, afinal, eram seus 4 anos apenas. Hema não se entendia com os móveis da sua casa. Parece que eles faziam mudanças todos os dias. Hema sempre tropeçava, esbarrava em algum deles. Eles sempre impávidos colossos em seus lugares mutáveis e, a pequena Hema, sempre toma em seus membros golpes duros e roxos. Parece que eles diziam: Hema, toma! E lá vai Hema tomando um golpe e ganhando um hematoma.

Transparência

Menino um dia sonha acordado que queria que seu quarto fosse transparente. Também, haveria de ser diferente? É o dia mais longo dos dias, então, nada mais justo que ter um quarto transparente que voe por cima das gentes, e que lá em cima fosse fresco, tivesse vento. Então, através da tranparencia sólida das paredes ele veria todo o mundo inteiro e num piscar de olhos saberia que o mundo é bonito. E tudo é transparente no quarto voador transparente: há cadeiras transparentes, com mesa transparente, com piso tranparente. Dá até medo de cair de lá. Oras, onde já se viu ver através do chão. Mas o menino via, via tudo. E lá em cima, sim, em cima da sua casa, longe o suficiente para não ser visto e perto o suficiente para ver, e lá em cima, até o sorriso é tranparente. Sorriso de gelo. Gestos de gelo. Mas não é frio de coisa ruim que ele sente é frio de coisa boa, pois agora ele é dele mesmo, é ele com ele e com o tempo dele. Então, até a alma trona-se transparente. Dá pra ver verdade em tudo de tanta transparência. E ele chora lágrimas transparentes. Lágrimas felizes, pois agora ele sente a falsa liberdade transparente por entre seus dedos que apontam ao longe o mundo que seria transparente se todos conseguissem ver. Mas não vêem. E na sua transparente felicidade feita de gestos transparentes e sorrisos tranparentes com paredes transparentes que dão para um mundo que deveria ser transparente e com lágrimas verdadeiras transparentes, ele dorme na transparência da sua cama transparente olhando fixo para uma mancha no chão.