[os que seguem]

domingo, 20 de dezembro de 2009

A casa parecia a imensidão de seu coração [Cap. IV] - Fragmentos

Capítulo IV

Fragmentos

Sentado à mesa do jantar, tanta coisa que queria ser dita, mas é contida, é adiada e perdida. Seu pai mais uma vez, com olhar impetuoso, olha-o atentamente. É sabido por ele que mais uma vez será ouvido o sermão de como se deve proceder na vida. É fato que para ele era por demais cansativo e exasperante ouvir todas aquelas palavras sempre e sempre. Mas, como também de costume, mostrava-se entretido e interessado no que seu progenitor falava, mesmo, é claro, que nada fosse absorvido.

Nenhuma palavra de sua boca é pronunciada até o fim da refeição. Sobe como um sólido para seu quarto. Antes, passa os olhos nos quadros com sorrisos sinceros a condená-lo. Aquilo o faz desistir de sua idéia original: trancar-se em seu quarto. Lembra-se de seu prazer antigo: tocar seu velho violão.

Ao entrar em seu quarto deparasse com seu velho amigo encostado num canto de parede. O pega e vai para a varanda. Recosta-se numa, também velha, cadeira e põe-se a tocar suas canções preferidas. Já é metade da noite. O céu está limpo e negro. As estrelas, lá de cima, brilham sem motivos. Apenas brilham. Ele percebe que não é mais o garoto tímido e medroso de antes, mas considera muito a idéia de que também não é o que esperava. Percebe seu lugar de descanso favorito, uma rede ao canto da varanda de onde se viam as árvores num balé infinito ao ritmo do vento. Deita-se e põe-se a pensar.

Pensa em toda a sua linda infância. Nos bons momentos com os seus amigos na escola. Lembra-se do dia em que a menina mais bonita o chamou para dançar e, de como se sentiu onipotente, pois todos os outros o olhavam diferente, agora. Era o maioral, nem que fosse por alguns dias. Lembrou-se de como sempre foi querido em qualquer lugar que freqüentava e de como pessoas faziam questão de sua presença e, de como não era preciso fazer força alguma para isso. Um sentimento nostálgico o tomou conta. Era sozinho. Não que o fosse por que queria. Era destino. Lembrou-se das inúmeras vezes em que, sozinho, reproduziu inúmeras e inúmeras estórias e histórias que ouvia seja dos mais velhos, mais novos, TV. Sua imaginação sempre lhe foi fiel e preenchia o espaço que seria das pessoas. Adormece.

Acorda com os primeiros raios de sol. Sente-se leve. Daria até para fugir do habitual. Mas lembra-se de que deve ir para a faculdade. Construir seu futuro. Ser o que se quer. O que o confortava era que, realmente, gostava do que estudava. Nunca foi e nem era sua pretensão ser dos mais brilhantes. Era só a forma encontrada de conseguir algumas coisas que sempre desejou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário