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domingo, 20 de dezembro de 2009

A casa parecia a imensidão de seu coração [Cap. I] - Afundar-se

Capítulo I

Afundar-se

A casa parecia a imensidão de seu coração. Porém, vazia, tal qual a vida naquele instante. Não sabia ele onde andavam todos os sonhos plantados ao longo de sua existência. Talvez um grande vento levou-os todos embora. Agora resta continuar como se todo dia fosse igual. Almejar um bem maior no futuro próximo. Sobram apenas os seus devaneios que o torturam e ele não sabe o porquê. Ele não quer saber o porquê. É cansativo demais tentar decifrar todos os quês dos poréns.

E mais um dia se passa em sua vida que, agora, resulta-se inútil. É o que o seu coração fatigado sente. Inutilidade. E não há beijo de namorada e afago de amigo que o faça reclinar em sua imersão no mais obscuro lugar de sua mente. Afoga-se em suas dores e mágoas. Em seu medo e solidão. Escolheu ser assim. Não soube dividir cousa alguma, apenas somar para si. Somar o nada, pois só a divisão forma o tudo. E nada que eles digam, absolutamente nada, o fará desistir de sua luta contra si mesmo.

No terceiro dia ele repara que há mais do que um quarto escuro e suas músicas. Here comes the sun! Passa agora a tentar iluminar sua mente e seus sentidos. Usa-os. Porém a inebriante vontade de se ser estático é mais e mais forte e forte. Ele não resiste. É mais uma vez vencido. E tudo a sua volta, volta a ser como era antes: negro.

Mas há uma esperança em seu peito. Ainda espera ele um dia que ela volte. Sim, que ela volte! Inútil espera, bem sabe ele. É o que resta de luz dentro de si. Deve ele, multiplicar seus espelhos, afim de que a luz, também, seja multiplicada e propagada e tudo volte a ser como outrora. Sim, os dias eram bons em sua vida. Eram até doces. Não havia ânsias. Não havia tanto medo de ser o que se é. Não havia medo da vida. Nem ao menos havia tanta preocupação em ter o que não se tem ou planejar o que se quer ser. Apenas se era como se é.

Logo toda esperança é perdida. A luta se intensifica. Tudo agora é mais negro do que era. Tudo faz menos sentido e menos tudo. Tudo é menos. Menos vontade, menos desejo, menos alegria, oh, pobre alegria, há tempos não o fazia sequer uma visita de enfermo. Mergulhado, afundado. Espantou os poucos amigos que restavam em um gesto dos mais fortes e estúpidos de puro egoísmo. “Qual será minha saída?” – pensa ele. Mas, até a mais óbvia lhe parece assustadora. Não concebe a idéia de ser apagado. De se apagar. Entra em conflito. Empurra mais e mais o seu eu no que ele chama de lugar onde não estou.

E as horas passam e nada acontece. Nem mesmo o louva-deus que o fazia companhia aparece mais. "Hey, louva-deus, onde estás que não mais me ouve? Foste para um lugar melhor, creio eu." Agora, mais que nunca, ele percebe que está íntimo da solidão. A dor vigente e pungente em sua mente o faz furioso. Todo o quarto está em ruínas. As fotos pelo chão. Pedaços de sonhos destruídos. Sorrisos falsos dilacerados. Adormece.

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